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O vazio narrativo de Guerra Civil, de Mark Millar e Steve McNiven

Lembro que, ano passado, quando assisti ao filme do Capitão América, fiquei com um misto de curiosidade e saudosismo para reler “Guerra Civil” (2006), de Mark Millar e Steve McNiven, que havia me entusiasmado muito na época e sido a responsável (junto com os Vingadores de Brian Michael Bendis) por voltar a ler os quadrinhos da Marvel com mais assiduidade.


Mas acabou que eu preferia ter guardado minhas lembranças nostálgicas. Com exceção dos desenhos de McNiven, a minissérie é simplesmente terrível.

Na verdade, desde que reli “Os Supremos” (2002-2004) algum tempo atrás, não consigo evitar a impressão de que Millar só escreve storyboards. Já em “Guerra Civil” toda cena, fala, disposição dos quadros, reação dos personagens... parece visar sempre uma futura adaptação cinematográfica (entenda-se: na fórmula Michael Bay de cinema de ação), nunca uma exploração da linguagem de HQs. Dizem que “Kick Ass” é um pouco diferente, mas confesso nunca ter tido paciência para ler.


Brian Cronin listou, na época do filme do Capitão América, os “momentos mais legais” de Guerra Civil (os quadrinhos), e todos eles são de fato ótimos. Mas acho que a história, no fundo, se resume a isso: uma coleção de momentos legais, chocantes, mas sem alma, sem substância, sem graça. Acho mesmo que o louvor praticamente consensual que a história teve foi menos pelas suas qualidades e mais pela concretização daquele desejo de ver vários heróis queridos se esmurrando e finalmente responder a questão de quem venceria uma luta entre eles (e a Marvel descobriu tanto a mina nessa fórmula, que vem repetindo ela até hoje, com a recentemente lançada no Brasil, “Guerra Civil II”).


A apreciação mais usual da história tenta ver em sua premissa, acerca do estabelecimento de uma lei de registro de super-humanos, uma ressonância de sentimentos predominantes na sociedade de vigilância atual. É verdade, mas se esse for seu grande mérito, convenhamos que ele tem pouco de novidade. Não só essa é uma questão cara às histórias dos X-Men desde que Claremont assumiu o grupo (lá em 1975), como Walter Simonson abordou exatamente a mesma premissa no início da sua fase no Quarteto Fantástico, em 1989 – em que o congresso estadunidense elabora o projeto dessa lei, e a equipe é chamada para debate-la. Ali sim, com a pirotecnia e a ação gratuita que fazem a graça de histórias de super-herói, a questão é abordada com alguma profundidade e de modo interessante.


Millar raramente sai do “debate” com os punhos, e nem esse ele faz bem.


O Quarteto Fantástico de Walter Simonson debate uma lei de registro de super-humanos (Fantastic Four 335, dez. 1989)


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