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Apresentação

As histórias em quadrinhos – a “arte sequencial”, na consagrada expressão de Will Eisner – vem ganhando uma projeção muito grande nos últimos anos, principalmente pela interface com outras mídias e formas artísticas. Como arte, mas especificamente como mídia, foram dando vazão a debates, comentários, pesquisas e confusões que levantaram consigo temas e polarizações que fazem parte do cotidiano do mundo contemporâneo. Assim, os quadrinhos aparecem como um espaço privilegiado para se refletir sobre as complexas relações entre cultura, cotidiano, valores, política...

 

É esse o ponto de partida que nos levou a criar este espaço. Dar vazão para parte da complexidade que envolve a produção e as leituras de HQs – editoras, temas, autoria, teor artístico e as diversas cenas independentes. O que envolve um esforço emocional (afinal de contas, a afeição pela arte sequencial é um critério essencial) e um esforço reflexivo, no sentido de tomar o gibi como objeto de análise, mesmo que de forma ensaística. Lendo, analisando, sistematizando informações.

 

E quanto à expressão “a contrapelo”? Tendo como principal referência o filósofo alemão Walter Benjamin, o título “quadrinhos à contrapelo” tem uma dupla função. A primeira delas é analítica, ou seja, aponta para uma possibilidade de conhecimento e compreensão. Em seu texto clássico Teses sobre a filosofia da história, Benjamin escreve que, para que possamos achar um sentido emancipador na história da humanidade, precisamos pentear a história à contrapelo, ou seja, ir mais além do que a história oficial nos diz, reivindicar os momentos de ruptura, as possibilidades perdidas, tudo o que nunca foi dito e escrito. Isso significa, entre outras coisas, que todo fenômeno histórico guarda para si um discurso oficial e um discurso silenciado, nunca dito; é nesse discurso que devemos (e procuramos) nos concentrar.

 

A segunda função da expressão é, na verdade, um compromisso. Ao nos propormos refletir os quadrinhos à contrapelo, estamos assumindo que os contextos de produção, criação e circulação das obras são diversos, complexos e importantes. Também estamos assumindo que, por mais “industrial” que uma HQ possa parecer, por mais vinculada a dimensões editorais mais amplas, existe espaço para a criatividade e para temas que podem dizer algo sobre o mundo. Aqui, é importante que se diga, o ponto não é cobrar dos quadrinhos compromisso algum, mas sim entendê-los como resultado de um conjunto de fenômenos e aspectos que influenciam, direta e indiretamente, toda ou parcialmente, sua produção.

 

Dito tudo isso, fique à vontade e vamos entrar nesses universos diversos, criativos, problemáticos, consensuais, não-consensuais, tristes, alegres, políticos e não-políticos. Enfim, vamos ler os quadrinhos a contrapelo.

Quem somos

Aloizio Lima Barbosa

Tentando ser doutor em sociologia, no buraco interminável que é o judiciário no Brasil. A leitura de quadrinhos é a fuga criativa para vida, que nem sempre é tão fuga assim...

Aristeu Portela Júnior

Professor e sociólogo. Leitor de quadrinhos nas horas vagas - e nas não tão vagas também.

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