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O Pássaro e a Flecha!


Terminado de ler os primeiros arcos de Arqueiro Verde do Universo DC Renascimento, tive uma boa sensação. Algo que faz com que, vez ou outra, e cada vez mais raramente, o espaço dos quadrinhos enquanto arte possa ser usado, mesmo na grande indústria, para discutir questões muito espinhosas, para além do debate entre quadrinhos adultos e infantojuvenis. A arte é fantástica, a cor é hipnotizante e o texto prende a leitura até o fim.


Oliver Queen tem que se decidir entre ser um vigilante socialmente responsável (acertadamente vinculado às reformulações de Neal Adams e Dennis O'Neil no começo dos anos 1970) e combater as ações predatórias de sua própria empresa (multinacional monopolizante situada em Seattle). Arqueiro Verde, como politicamente engajado à esquerda da política americana, vive dilemas e mais dilemas em cada problema. Sua empresa, que depois é tomada, tem ações com o tráfico, a exploração do meio ambiente, a construção de rotas de heroína, a promoção de guerras etc. O herói mascarado, com isso, é antagônico ao empresário filantropo “herói”. A relação com Canário Negro engrandece muita a história, principalmente pelas questões que ela traz sobre os direitos das mulheres e por sua ligação com as Aves de rapina.


Canário Negro é a peça chave desse Arco. É ela quem questiona Oliver Queen sobre as ações da sua empresa. É ela quem mostra como combate ao crime e filantropia tem uma relação tensa, ambígua e, muitas vezes, problemática. A inserção da meia-irmã do arqueiro, Emiko, coloca um alto grau de complexidade na maneira como essa relação irmã-irmão é desenvolvida. Ela é filha de Shado, uma clássica vilã do herói que tem sua vida controlada pela Yakuza, o que em si já mostra que a linha entre heroísmo e vilania, aqui, é bem cinzenta, com Robert Queen, pai do herói. Emiko é uma personagem forte que capta a atenção logo no comecinho das histórias.


Por fim, o que mais chama a atenção na obra é a existência de um banco mundial para o crime organizado. Esse banco, que é a chave das primeiras histórias, controla o dinheiro do crime ao redor do mundo e, vejam que surpresa, as empresas Queen têm ações nele. A pessoa que controla o banco é fria, seus funcionários são marcados pelos corpos, queimados. Nada mais simbólico que um banco mundial do mal!

O quadrinho, como todo produto da indústria cultural, padece de alguns problemas mais comuns, embora acerte bastante na abordagens dos dilemas do Oliver Queen e das questões que merecem ser tratadas pelo Arqueiro Verde. Esperemos que essa abordagem só melhore e se amplie. Provavelmente, Arqueiro Verde, até o momento, tem um dos roteiros mais legais e interessante do Renascimento da DC.

A equipe criativa está de parabéns. Benjamin Percy fez um roteiro muito bom! Temas fundamentais são tratados, aqui, de forma convincente sem as “pesos” geralmente associados às revistas adultas. Vale muito a leitura!


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