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Protagonistas femininas nos quadrinhos: no covil do Mago Moore


Quando ouve falar do Alan Moore, tenho quase certeza que, institivamente, você vai pensar nos seus trabalhos como V de Vingança ou Watchmen. Com grandes repercussões midiáticas, tais obras, em suas versões cinematográficas, deram notoriedade ao Alan Moore no mainstream da indústria cultural. Seus quadrinhos, no entanto, nos levam a lombras nunca antes navegadas e, minha/meu cara/o, lombras essas que nos desafiam a colocar em xeque toda ideologia dominante sobre as narrativas e perspectivas políticas que nos são impostas. Promethea, do Alan Moore, por sua vez, aposta na narrativa de uma personagem feminina que acaba contestando a indústria dos quadrinhos majoritariamente construída por homens, para homens.


Para adentrar inteiramente no universo do grande mago, convoco Promethea. A história se inicia com a Sofia Bangs investigando as origens e supostas aparições de uma heroína feminina chamada Promethea desde o século XVIII. Antes o que era uma pesquisa acadêmica acaba atingindo Sofia e ela mesma passa a ser a encarnação da deusa. Assim, para a devida transformação de Sofia, Barbara Shelley (a antiga receptora da deusa) tutela sua transição para o mundo da imateria, onde Promethea seria a mediadora entre o mundo físico/material e o reino da imaginação. Sua principal missão é trazer um pouco de “iluminação” e senso crítico para um mundo fragmentado e superficial.


Nesse mundo simbólico, Moore faz uma ode a todxs xs escritorxs que, silenciadxs, não conseguiram ter notoriedade com uma personagem feminina. Promethea é extraordinária por afirmar que a razão não é só domínio do masculino, mas também de mulheres heroínas que lutam e enfrentam os desafios coletivamente. Temos o poder de criar mundos simbólicos e destruí-los porque mesmo invisíveis carregamos dentro de nós a potência da criação. Como um maestro, Moore nos inclui no complexo universo onde a comunicação nos encarcera e nos molda como objetos amorfos; e só o poder da Deusa nos liberta dos véus (grilhões) da irracionalidade.

(o covil das Prometheas na imateria)


Uma fissura narrativa se abre, mais uma deusa da porra toda emerge das cinzas e do ostracismo. No entanto, ainda continua sendo o olhar narrativo e gráfico masculino. Não conseguimos romper os muros de titânio da indústria dos quadrinhos, tanto como protagonistas de histórias ou como detentoras do discurso narrativo e editorial. Na matéria “Precisamos falar sobre as mulheres quadrinistas”, recém-publicada no Jornal do Commercio, a jornalista Joana Nova problematiza o inóspito mundo dos quadrinhos e afirma que, apesar da crescente produção de HQs por mulheres, ainda persiste o preconceito da nossa presença no mundo geek. Não somos publicadas e a maioria do material só se encontra na plataforma digital.


Para ilustrar tamanho disparate, neste ano a Heather Antos e colegas do editorial da Marvel, foram alvo de ofensas machistas ao postarem uma foto no twitter. Acusadas de “falsas geeks”, alguns homens relacionaram uma suposta queda da qualidade dos quadrinhos à presença das mulheres na equipe e as assediaram.

(foto publicada e atacada pelos haters geek)


APESAR DESSA SHIT TODA, somos as Prometheas da história. Somos as mulheres que NINGUÉM CONSEGUE QUEIMAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Toda força às roteiristas e ilustradoras que conseguem peitar o machismo, e muito obrigada aos homens apoiadores que deram/dão vida a protagonistas femininas. Vamos ajudar as girls a protagonizarem suas próprias narrativas.


Referências

A editora Panini Comics está publicando Promethea no Brasil, esse mês acabou de sair o volume dois. Para um pontapé inicial sobre as mulheres na história, além de uma visão crítica da própria historiografia, Michele Perrot é uma ótima referência com seu livro Minha História das Mulheres. Sobre a relação entre indústria de quadrinhos e autoria feminina, Luana Nova Publicou um texto fantástico no Jornal do Comércio (Periódico de Pernambuco: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2017/11/06/precisamos-falar-sobre-as-mulheres-quadrinistas-314610.php).

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